Virtude Teologais
As virtudes podem ser HUMANAS e TEOLOGAIS. Nós cultivamos e usamos as virtudes humanas para conviver bem com as outras pessoas, no meio da nossa família, na nossa comunidade e no mundo, enfim. Também devemos cultivar as virtudes teologais no nosso relacionamento com Deus.
Quando recebemos o sacramento do Batismo é infundida
em nós a graça santificante, que nos torna capazes de nos relacionar com
a Santíssima Trindade e nos orienta na maneira cristã de agir. O
Espírito Santo se torna presente em nós, fundamentando as virtudes
teologais, que são três: FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE.
1 - A Fé
Cultivando a fé, acreditamos no Deus Criador, que é o
Pai, no Deus Salvador, que é Jesus Cristo e no Deus Santificador, que é
o Espírito Santo. Cultivando a fé, compreendemos que o Altíssimo é uno e
trino e que tudo isso nos foi revelado nas Sagradas Escrituras. Cremos,
então, que Deus é a verdade.
No dia a dia, nós usamos muito a fé. Temos fé nas
pessoas, às vezes até em pessoas em quem não sabemos se podemos confiar.
Por exemplo: ninguém pode ser testemunha do seu próprio nascimento, mas
a fé que nós cremos nos pais ou no cartório que fez o registro nos faz
acreditar na data e no local do nosso nascimento. Do mesmo modo, quando
entramos em um ônibus ou em um avião, acreditamos que o motorista ou o
piloto são habilitados para nos transportar e nós nem os conhecemos, mas
acreditamos neles.
E Deus, que criou todas as coisas e nos deu a
faculdade de pensar, de raciocinar, de acreditar? Temos muito mais
motivos para acreditar n'Ele, para confiar n'Ele, para nos abandonar
livremente em Suas mãos.
A fé que devemos cultivar em relação a Deus é muito
mais segura do que a fé que naturalmente temos nas pessoas. Assim, pela
fé, cremos no Todo-poderoso e em tudo o que Ele nos revelou. Ele se
revela sempre a nós. Primeiro pelos Profetas, depois, através de seu
Filho, que é a Sua Palavra. Ele se revela também através do testemunho
dos Apóstolos. E, constantemente, através dos acontecimentos da história
da humanidade e da história de cada um de nós.
A criança tem uma fé sem limites na mãe, desde muito
pequena, porque foi ela quem a gerou, a amamentou, ensinou-lhe a andar e
a falar.
E Deus, que preparou um mundo maravilhoso para nós e
nos colocou como centro desse mundo?... É forçoso que confiemos n'Ele,
com total confiança. Precisamos procurar conhecer a vontade do Pai e
realizá-la em nós, porque, como diz São Paulo, em sua Carta aos Gálatas
(cf. Gl 5,6), a fé age por amor.
Mas não basta que nós cultivemos a fé. Esta, quando
verdadeira, exige ação. Quando temos um amigo, não basta que gostemos
dele. Devemos dar-lhe atenção, ajudá-lo quando necessário e possível, e
ajudar também as pessoas que ele ama. Se não for assim, a amizade e a
confiança não são verdadeiras.
Com Deus, é do mesmo modo. De que adianta a pessoa
acreditar n'Ele e não fazer nada para melhorar o mundo que Ele criou com
tanto amor? Madre Teresa de Calcutá dizia: "Eu sei que o meu trabalho é
como uma gota no oceano, mas, sem ele, o oceano seria menor". E São
Tiago, em uma carta, nos diz que "a fé sem obras é morta "(cf. Tg 2,26).
A fé nos leva, portanto, a praticar a justiça em tudo que fazemos.
2 - A Esperança
A Esperança é a virtude que nos ajuda a desejar e a
esperar tempos melhores em nossa vida aqui na terra e a ter a certeza de
que conquistaremos a vida eterna, que será a nossa felicidade.
Muitas vezes, passamos por momentos difíceis e
achamos que nossa vida não tem solução. O mundo hoje está muito violento
e cheio de catástrofes. A cada dia, assistimos na televisão e até bem
perto de nós, cenas de maldade, agressões, violência. E assistimos
também a tragédias provocadas por desastres da natureza.
Precisamos refletir sobre tudo o que está
acontecendo, encontrar onde está a falha e buscar uma solução. Sozinhos,
não somos nada, mas, com Deus, tudo podemos. A esperança nos leva a
tentar vencer os obstáculos.
Há poucos dias, um fato nos chamou a atenção. Houve
um tremor de terra no Haiti e 70% dos prédios da capital se
desmoronaram. Um repórter conseguiu mostrar que, em meio à quase
completa ruína de uma igreja católica, restou intacta, a imagem do
Cristo Crucificado. Tudo quebrado no chão e ela lá, em pé, fulgurante,
como a mostrar que Ele está presente junto ao povo sofrido. Esta cena é
muito significativa. Pode-se compreender muita mensagem de Deus para
nós. Precisamos aprender a escutar a voz do Pai. Cada um, no seu
coração, vai interpretar, a seu modo, fatos como este, tão
significativos.
No Antigo Testamento, a esposa de Abraão era estéril,
mas o Senhor lhe prometeu uma descendência mais numerosa do que as
estrelas do céu e todo o povo de Deus constitui a sua descendência,
porque Sara, sua esposa, concebeu na velhice e gerou seu filho, Isaac.
No Novo Testamento, o anjo do Senhor anunciou a
Virgem Maria que ela seria Mãe de um rei. E ela, de início sem
compreender o que anjo falara, se prontificou a cumprir a vontade do
Pai. Sofreu muito, meditando tudo no silêncio do seu coração. Esperou,
esperou contra toda esperança e foi elevada aos céus e coroada Rainha
dos anjos e dos santos, Mãe de Deus e Mãe da humanidade.
Seu Filho não foi aquele rei rico em coisas
materiais, como nós imaginamos, no nosso mundo serem os reis. Mas Ele
mesmo disse: "O meu reino não é deste mundo". E Ele é o Rei dos Reis e
ao som do Seu nome se dobram todos os seres do céu, da terra e sob a
terra. Somos, por meio de Cristo, herdeiros da esperança de vida eterna.
3 - Caridade
A Caridade é amor. São palavras sinônimas. A Caridade
não é somente procurar uma moedinha no fundo da bolsa e jogá-la na
latinha de quem pede. A Caridade não é somente ofertar um prato de
comida a quem tem fome. A Caridade não é somente tirar do nosso
guarda-roupa um vestido, uma blusa, um sapato ou qualquer objeto que não
usamos mais e dar a quem nada tem. A Caridade é amor. É conhecer a dor
da pessoa que vive perto de nós, quer seja na nossa família, na
comunidade ou mais distante. Conhecer a sua dor e procurar com ela
resolver o seu problema.
A Caridade é dar um "bom-dia!", é sorrir para uma
criança indefesa, para um jovem, às vezes desorientado, para um idoso
que carrega seu fardo com dificuldade.
A caridade, o amor é a virtude perfeita. Neste mundo,
precisamos ter fé, esperança e amor. Precisamos ter fé e esperança
porque aqui estamos caminhando nas trevas, isto é, acreditamos em algo
que não vemos com os nossos olhos humanos e limitados. Mas cremos na
aurora que dissipará essas trevas e, quando alcançarmos a vida eterna, a
fé e a esperança já não serão necessárias, porque já estaremos diante
do Pai.
Entretanto, o amor permanece, porque Deus é amor e, se estamos diante d'Ele, também somos amor.
Por isso é que São Paulo, em sua Primeira Carta aos
Coríntios, termina o capítulo 13 dizendo: "Agora, portanto, permanecem
três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas é o amor".
Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de ForaVirtudes Cardeais
Virtudes cardeais quer dizer virtudes centrais,
fundamentais, orientadoras. É o mesmo que virtudes morais. São quatro
como quatro são os pontos cardeais, as estações do ano, os lados da
cruz, os alicerces da casa, os pés da mesa e da cama. A quaternidade
para Jung é símbolo da perfeição. Eis as virtudes:
1 - Prudência
É o reto agir, o bom senso, o equilíbrio. Cuida do
lado prático da vida, da ação correta e busca os meios para agir bem.
Prudência é o mesmo que sabedoria, previdência, precaução. O prudente é
previdente e providente. É pessoa que abandona as preocupações e abraça
as soluções. Deixa as ilusões e opta pelas decisões. Rejeita as omissões
e se empenha nas ocupações. O lema dos prudentes é: “Ocupação sim,
preocupação não.” A prudência coloca sua atenção na preparação dos fatos
e eventos e nunca na precipitação nem no amadorismo ou improvisação.
Ciência sem prudência é um perigo.
2 - Temperança
É o auto-controle, auto-domínio, renúncia, moderação.
A temperança ordena afetos, domestica os instintos, sublima as paixões,
organiza a sexualidade, modera os impulsos e apetites. Abre o caminho
para a continência, a castidade, a sobriedade, o desapego. É próprio da
temperança o cuidado conosco mesmo, com os outros e com a natureza. A
temperança não permite que sejamos escravos, mas livres e libertadores e
nos encaminha para o cumprimento dos deveres e para a maturidade
humana. Sem renúncia não há maturidade. Grande fruto da renúncia é a
alegria e a paz.
3 - Fortaleza
Faz-nos fortes no bem, na fé, no amor. Leva-nos a
perseverar nas coisas difíceis e árduas, a resistir à mediocridade, a
evitar rotina e omissões. Pela fortaleza vencemos a apatia, a acomodação
e abraçamos os desafios e a profecia. É virtude dos profetas, dos
heróis, dos mártires e dos pobres. A fortaleza dos mártires e a ousadia
dos apóstolos, como também a força dos pequenos e dos fracos é um sinal
do dom da fortaleza na vida humana e na história da Igreja. Hoje a
fortaleza nos leva a enfrentar a depressão, o stress, o câncer, a AIDS,
os golpes da vida. Grandes são os conflitos humanos, porém maior é a
força para superá-los. A vida é luta renhida, dizia nosso poeta e a fé é
um combate espiritual. “Coragem, Eu venci o mundo!” (Jo 16,33).
4 - Justiça
Regula nossa convivência, possibilita o bem comum,
defende a dignidade humana, respeita os direitos humanos. É da justiça
que brota a paz. Sem a justiça nem o amor é possível. É a virtude da
vida comunitária e social que se rege pelo respeito à igualdade da
dignidade das pessoas. Da justiça vem a gratidão, a religião, a
veracidade. Não se pode construir o castelo da caridade sobre as ruínas
da justiça. Pelo contrário, o primeiro passo do amor é a justiça, porque
amar é querer o bem do outro. A justiça é imortal (Sab 1,15). Esta
virtude trata de nossos direitos e nossos deveres e diz respeito ao
outro, à comunidade e à sociedade.
Dom Orlando BrandesArcebispo de Londrina (PR)
Devemos meditar as Virtudes Teologais e Cardeais! Suplucá--las diante de Deus em forma de Oração!
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